Cada um o que quer aprova
Nós moramos a quase dez mil quilômetros de distância um do outro e nos encontramos uma única vez: uma conversa de hora e pouco no lobby de um hotel em preparação para esse encontro aí de cima, na Livraria Arte e Letra em Curitiba.
Essas conversas, como todo mundo que já viveu alguma coisa sabe, podem ser raras. Se a vida é uma sucessão de encontros em salas diferentes, alguns desses acabam meio gravados a quente (morninho, vá lá) na nossa memória. E naquele dia aconteceu aquela, a mais rara das coisas entre dois desconhecidos com trajetórias diferentes e histórias de vida contrastantes: bateu o santo. E a gente saiu dali com a sensação de que se conhecia desde o berço.
Muita coisa contribuiu para isso, claro. Acima de tudo, nosso amor descabelado pelos livros, pelas pessoas que escrevem os livros que a gente adora e pelas pessoas que vivem dentro dos livros que a gente adora. E a gente leu muita coisa em comum. Mas não foram só os livros. A gente estava à beira de completar cinquenta anos, e chegando a essa encruzilhada também com opiniões e otimismos muito diferentes, mas do tipo de “diferente” que, em vez de impossibilitar a conversa, gerava curiosidade, interesse. A gente descobriu que tinha curiosidades também comuns, por coisas previsíveis em dois nerds de biblioteca, mas também por coisas menos ortodoxas: meditação, nomes de gatos (a gente não tem gatos), a vida de verdade que parece se ocultar por trás de tudo aquilo que a gente insiste de chamar em vida de verdade…
A gente mora a quase dez mil quilômetros de distância um do outro, mas continua com vontade de conversar. Sobre livros, gatos imaginários, meia-idade, meia-vida, vida inteira e o que mais aparecer na nossa frente. Sobre o que cada um de nós anda lendo e sobre o que cada um de nós está escrevendo. Sobre o nosso “processo” de escrever, de inventar e refazer. Sobre, sei lá: papoulas, mingau, arte vietnamita e amálgama de prata. Sobre a vida, sabe?
Essa é a essência do Opiniães. Uma longa conversa entre duas pessoas que estão se fazendo amigas, uma polaroid em palavras, retrato de quem somos e pensamos e sentimos.
A cada semana, uma carta. Da Martha para o Caetano, do Caetano para a Martha.
Convidamos vocês, leitores, a acompanhar nossas opiniães.
(A bela pintura dos livros à esquerda é do grande Odyr Bernardi)
